Segundo preceitos básicos de planejamento e boa
administração, toda obra pública deve ser ambientalmente sustentável,
economicamente viável e socialmente desejável. Tudo que o Centro de Tratamento
de Resíduos (CTR) de Seropédica não é.
Inaugurado pelo governo em 2011 como sendo a mais moderna
estação de tratamento de resíduos da América Latina, a CTR de Seropédica se
mostrou na verdade um símbolo do mau planejamento (vamos confiar na honestidade
dos governantes) que impera em todas as esferas do nosso governo.
Com a decisão de encerrar as atividades no Aterro de
Gramacho e vendo barrada por pressão política a intenção de construir a CTR em
Paciência (zona oeste...) o local escolhido acabou sendo Seropédica.
De maneira pouco estratégica a região escolhida foi
justamente a área de recarga do Aqüífero Piranema, local de solo arenoso com
alta permeabilidade. Esse fato fez com que alguns ambientalistas se
preocupassem com a possibilidade do chorume, que é um resíduo liquido do
tratamento do lixo com alta concentração de metais pesados, pudesse infiltrar pelo
solo até atingir o aqüífero.
O contrato de licenciamento para administração da CTR previa
que a empresa ganhadora construiria uma usina de tratamento de chorume no local.
No entanto, dois anos após a inauguração a Ciclus, empresa que ganhou a
licitação, ainda não cumpriu essa exigência.
Aparentemente a Prefeitura de Seropédica tem uma relação
muito próxima com a empresa, uma vez que, segundo o site da Associação dos
Docentes da Rural (http://www.adur-rj.org.br/5com/pop_2013/carnaval.htm),
a empresa foi uma das patrocinadoras do carnaval da cidade.
O fato é que Seropédica recebe 9 milhões de toneladas de
lixo por dia que geram 150 mil litros de chorume. Como não existe a tal usina
de tratamento o resíduo é levado por caminhões até a Estação de Tratamento de
Esgoto (vejam bem, esgoto não é o mesmo que chorume) de Icaraí/Niterói. A carga
é transportada através de 150 km até chegar a ETE onde o chorume é tratado junto
com o esgoto e jogado na Baía de Guanabara. O custo dessa operação é de
R$80,00/m³ transportado.
O orçamento para a construção da usina para tratar o chorume
é de R$35 milhões. Tá certo que a construção deve ser realizada pela Ciclus,
mas só como comparação o valor gasto com a “reforma” do Maracanã, que será
repassado praticamente de graça para um consorcio de empresas privadas, seria
suficiente para construir 32 Usinas de Tratamento de Chorume, cuja inexistência
gera um passivo ambiental enorme.
Bola fora das prefeituras do Rio de Janeiro, Seropédica e do
Governo do Estado.