quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Atenção emissoras...

Olá meus amigos de bar, após longo recesso voltamos com nossa programação normal do blog, ou quase isso como vocês bem notarão. Saibam que senti tanta falta de vocês quanto sei que sentiram de mim.

Durante nossa hibernação ocorreram muitos fatos curiosos e interessantes, todos dignos de debate aqui em nosso buteco virtual. Mas não pude tratar sobre nenhum deles, e não será agora que farei isso.

No entanto, a circunstancia da data me restringe a falar sobre um único assunto neste texto: o Rock in Rio Rio. E não poderia ser diferente, pois, como já estamos cansados de ouvir por aí, trata-se do maior evento de música do planeta. Sim, vocês leram corretamente, de MÚSICA, não de rock como o nome pode sugerir e uns e outros esbravejam babando por aí.

Não amigos, não fui e nem irei a nenhum dos shows. Por quê? Um misto de preços exorbitantes, dificuldade em conseguir ingresso e vontade de evitar a fadiga me levaram a não participar diretamente. Mas isso não significa que não estou relativamente atento ao que acontece na Cidade do Rock.

Alguns fatos relacionados ao evento têm chamado minha atenção. No primeiro dia de shows assisti pela televisão uma mulher de meia idade dentro de seu carro reclamando que não podia ultrapassar a barreira de veículos. Bem, eu, que nem circulo por aquela área, sei a pelo menos um mês que carro não entra ali, salvo os que tenham credencial. Mas parece que para essa senhora e muitos outros tudo foi decidido naquele mesmo dia.

Pouco depois, a mesma matéria mostra outra senhora reclamando de alguma bobagem, quando, de repente, ela diz que o evento não tem "infraestrutura" nenhuma e que "isso é Brasil". Repito que não fui aos shows, portanto, não posso confirmar a veracidade das palavras da senhora, mas me permiti imaginar em quantos mega eventos internacionais ela teria ido para ter parâmetros de comparação.

Parece que a ingenuidade das pessoas não tem limites, creio que a organização do evento deveria contratar milhares de babás para atender ao público. Explico, li uma matéria que contava a história de um fotógrafo que teve seu equipamento furtado enquanto ia ao banheiro. Não consegui evitar imaginar a cena do pobre homem entrando na cabine e deixando seu material do lado de fora, para logo depois ter uma desagradável surpresa.

Outra notícia, no mínimo curiosa, relacionada ao evento é a greve dos guardas municipais. Não sei como ela está ou quais são as reivindicações, nem mesmo sei se eles ainda estão em greve, mas fiquei intrigado ao ouvir uma entrevista concedida por um homem que provavelmente era o porta-voz do sindicato. Quando questionado sobre o por que dos guardas entrarem em greve na semana do Rock in Rio, o mesmo respondeu que isso não foi proposital e que não passou de uma coincidência. Não tenho informações oficiais, e peço que me corrijam se estiver errado, mas as datas do Rock in Rio devem ter sido definidas há mais de um ano. Que espantosa coincidência! Falando em greve, os funcionários dos Correios também estão paralisados, e os operários da reforma do maracanã até pouco tempo também estavam. Isso nos leva à pergunta: a greve é a única forma de negociação dos trabalhadores?

domingo, 18 de setembro de 2011

[Bestiário Carioca] O Sambista Indigente


Habita os subúrbios do Rio de Janeiro uma espécie conhecida como sambista indigente. Os exemplares não são numerosos, o que já levou muitas vezes à conclusão equivocada de que a espécie estaria extinta. Entretanto, os espécimes existentes não costumam prezar pela discrição e deixam bem remarcado seu espaço social na fauna carioca. Acrescente-se que os sambistas indigentes fazem jus à fama de vaso ruim e sua vida longa compensa sua baixa taxa de reprodução.

O sambista indigente é comumente encontrado em qualquer ocasião social com seu tradicional blusão de mangas curtas. Na hierarquia dos botões, encontra-se algumas casas abaixo do pastor evangélico, do almofadinha e do cobrador de ônibus, isto é, com o decote da camisa aberto até a altura do umbigo. Longe de individualizar a espécie em questão, a característica é vista em diversas outras, tratando-se, sem dúvida, de uma adaptação evolutiva para suportar as temperaturas do quinto dos infernos - na amável expressão da querida rainha.

Por ser difícil o reconhecimento da espécie em questão, o sambista indigente é muitas vezes confundido com outra espécie do mesmo gênero, o alcoólatra anônimo. Mas este costuma ser desempregado ou, algumas raras vezes, equilibra-se em um emprego e aquele, por sua vez, está invariavelmente na posição intermediária, a de funcionário público.

Espécie de sensibilidade ímpar, o sambista indigente sofre o efeito das estações do ano, mudando de repartição a cada trimestre. Sua explicação para o fenômeno é a desdita da vida. A dos colegas e dos chefes, que chegam a praguejar contra a estabilidade do funcionalismo público, é a insuportável chatice do sujeito.

O sambista indigente, como o próprio nome da espécie permite antever, é um poeta não reconhecido. Seu talento nato para versar inclui as improváveis rimas de “amor” com “dor” e de “paixão” com “coração”. Suas composições situam-se em um curioso ramo do samba-exaltação mais voltado para o pelassaquismo. São comuns as letras em homenagens à sogra, ao chefe ou um dissonante improviso poético em honra do ouvinte da ocasião. Mas os motivos tratados são bem abrangentes, o sambista indigente é capaz de versos louvando Jesus Cristo, o Louro José e a bunda da vizinha. Às vezes, em uma mesma música.

Os seres desta espécie nunca perdem a oportunidade de mostrar ao mundo sua nova música de trabalho. Todos os conhecidos já tiveram a terrível experiência de ouvir uma de suas melodias acompanhadas do batuque da caixa de fósforos pela metade (o cigarro, pelo bem da música, só é aceso no isqueiro dos outros para não desafinar o instrumento).

Aqueles que se revoltam contra as rimas óbvias e letras de gosto duvidoso são imediatamente taxados de invejosos por esta curiosa espécie artística, aumentando sua certeza de talento diante da incompreensão demonstrada pelo mundo. Não há um só sambista indigente que, em defesa da qualidade de sua própria obra, não seja capaz de jurar de pés juntos que já foi plagiado pelo Jorge Aragão ou pelo Arlindo Cruz.

Por fim, aspecto muito controverso sobre a espécie, defendido por uns e negado por outros, é uma eventual e gradual evolução através das gerações para uma outra, a dos funkeiros de youtube. Observar as interações entre os indivíduos das duas espécies só aumenta a controvérsia científica sobre a proximidade genética: eles se observam, se cheiram, se bicam e se mordem, mas nada de se acasalarem.