domingo, 22 de fevereiro de 2015

Contos - Severino de Maria do finado Zacarias

O sol ainda não nasceu, mas seu despertador já está chamando. Ele não demora a se levantar, já está acostumado e sabe que não tem muito tempo. Coloca água para ferver, veste-se, escova os dentes, lava o rosto e passa o café. Apenas uma xícara, negro e amargo. Engole a bebida e sai.

A rua ainda está escura.

Há um ponto de ônibus próximo a sua casa, mas ele prefere caminhar até o ponto final, o esforço é compensado com um banco vazio. A viagem dura uma hora, mas ele sabe que ainda pegará outro ônibus. A perspectiva não o anima, então ele se recosta e fecha os olhos. Cochilando a viagem passa mais rápido.

Ele abre os olhos.

É hora de saltar, o outro ônibus já está saindo e desta vez a viagem será em pé. Ele corre e consegue pegá-lo. Está lotado! Não dá para passar na roleta, mas tudo bem, todos vão saltar no mesmo ponto. Um colega grita seu nome e eles conversam sobre o futebol e a novela.

Mais uma hora de viagem.

O ônibus para. Ainda faltam 10 minutos, dá tempo de comer um pão com mortadela na barraca em frente ao portão da obra. Ele pega o crachá na mochila e entra. Poeira e lama, brita, areia e cimento.

Hora do almoço.

Risos, provocações e brincadeiras. Ele engole a comida rápido para poder tirar um cochilo. Uma hora de intervalo não dá para muita coisa. A tarde ele carrega tijolo e argamassa, ouve gritos do encarregado e...

Fim do expediente.

Ao sair na portaria é revistado pelo segurança, mas ele está acostumado. No caminho de volta engarrafamento, pelo menos está sentado. Enquanto pensa na novela e na cama que o espera quando chegar em casa ele adormece.
Amanhã fará tudo novamente.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Resenha - O Anticristo

Sejam bem-vindos leitores(as). Vamos ver se nesse novo ano conseguiremos manter o blog mais atualizado. Tentarei assumir um compromisso de fazer uma espécie de resenha totalmente parcial dos livros que for lendo durante o ano. Parece que opinião alheia atrai interesse das pessoas.
O primeiro livro será “O Anticristo” de Nietzsche.

Vamos lá.

Ler “O Anticristo” me deu a mesma sensação de quando leio comentários preconceituosos contra nordestinos ou pobres. Daqueles em que patricinhas destilam nas redes sociais da vida enquanto que a “nordestina pobre” faz sua comida. Um sentimento que é um misto de revolta, incredulidade, vergonha alheia e pena.

Fiquei com uma impressão muito ruim do autor, no entanto, por ser meu primeiro livro de Nietzsche pretendo futuramente dar novas oportunidades para sua obra e analisarei aqui apenas este livro.

Em “O Anticristo” Nietzsche incorporou o coxinha padrão, que toma sua opinião como a verdade máxima e expressa seu ódio contra todos que não concordam com ele. Talvez ao escrevê-lo já tivesse perdido suas faculdades mentais, entregue em sua loucura devido a sífilis. Sendo assim, talvez eu não devesse dar mais crédito a esse livro que aos gritos desvairados de um lunático, destes que encontramos nas ruas do centro da cidade.

Neste livro encontramos verdadeiras pérolas como quando ele afirma que a desigualdade dos direitos é uma condição necessária para o surgimento de “tipos mais elevados e supremos”, esquecendo-se que não somos mais primatas nas savanas africanas regidos pela lei da sobrevivência do mais apto, mas que vivemos em uma sociedade, cujo maior objetivo deveria ser proteger todos os seus indivíduos. Ele sustenta sua teoria na ideia de que “uma sociedade elevada é como uma pirâmide”, necessita de uma base larga onde é indispensável uma “mediocridade consolidada”.
Em outro ponto ele afirma que a injustiça não está na desigualdade dos direitos, mas na reivindicação de direitos iguais(!). Parece esquecer-se que igualdade de direitos é imprescindível para a igualdade de oportunidades para todos.

Voltando-se para o principal alvo de seu livro Nietzsche é taxativo ao afirmar que “Todo trabalho do mundo antigo foi em vão”. Tomando como exemplo gregos e romanos tenta provar que o cristão foi o grande responsável pelo atraso na evolução do homem. Com um pensamento eurocêntrico ignora completamente as antigas culturas orientais e americanas que não foram influenciadas pelo cristianismo no primeiro século.

Por fim, ao ler afirmações como: “A quem odeio mais entre a ralé de hoje? A ralé dos socialistas, os apóstolos que minam o sentimento de satisfação que o trabalhador tem de sua pequena existência – que o tornam invejoso”, e “o cristão... Esse verme (...) esse bando covarde, efeminado e meloso.” compreendi que seria impossível para alguém transbordando de ódio infundado tolerar uma religião cujo um dos maiores mandamento é “Amai ao próximo como a ti mesmo”.