quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Os movimentos da USP - I

Na última publicação eu apresentei o tema de meu próximo post: Os protestos ocorridos na USP.

Me admira que o amigo Delfim não tenha deliberado sobre o tema. Antes que ele o faça e, inevitavelmente, condene todos os maconheiros à morte, gostaria de publicar minha modesta opinião sobre o assunto.

Em primeiro lugar gostaria de deixar claro que não dou razão nem ao movimento dos estudantes e nem mesmo à estúpida repressão feita a eles. Além disso, sou defensor de manifestações a favor da legalização das drogas (seja quais entorpecentes forem), de reformas políticas de qualquer tipo e, inclusive, sou a favor de manifestações que problematizem mais a questão da pedofilia.

Sou, em suma, a favor de qualquer debate e de discussões acerca de tabus na sociedade, embora não seja, necessariamente, a favor de tais tabus. Mas todos tem direito de tentar legalizar o que acham ultrapassado, sendo o debate científico uma das melhores formas de legitimar tais lutas.

O que ocorreu na USP não foi um movimento a favor da legalização dos derivados da cannabis sativa. Não era essa a luta levantada pelo primeiro protesto. Tão pouco me parece que era a luta política, para a qual o debate progrediu. O início da manifestação claramente foi pela detenção de alunos que fumavam baseado dentro da universidade, o que foi visto como um abuso de autoridade da PM. Ora, contra esse abuso, que impedia o direito natural dos estudantes de se drogarem dentro da Universidade Pública, deu-se início todo o alvoroço. Veja bem, a luta não foi pela legalização da maconha. Foi pelo pretenso direito que os estudantes tinham (e tem) de que poderiam se drogar dentro da faculdade sem serem incomodados. Pela continuidade desse direito, vimos aquela primeira manifestação.

E peço para que os estudantes que hoje estão lutando contra o Reitor não sejam hipócritas; esse foi o motivo do primeiro protesto.

Chamo a atenção para esse ponto e, vou reforçá-lo ainda mais, porque observo a tendência de, atualmente, o desvio do assunto, quando não sua distorção. Alguns falam, inclusive, que o movimento se deu pela atuação geral da PM, que sempre fora arbitrária e, novamente, autoritária. Friso: não digo que ela não foi/é. Casos e mais casos já foram relatados, de moralismo cristão até preconceito étnico. Contudo, os estudantes não se mobilizaram em nenhum momento contra essas dezenas e centenas de abusos. Não protestaram de nenhuma forma. A detenção de três estudantes, cujo direito de fumar um baseado foi tolhido foi capaz de mobilizar essa turma revolucionária. Não o direito à dignidade do amigo negro que foi taxado de marginal, em um dos relatos. Mas o direito de fumar maconha. E isso, ninguém vai esquecer, por mais que se esforcem para apagar da memória o estopim do movimento. Então, menos hipocrisia de motivos nobres. Muito menos.

Tendo dito isso, devemos agora tratar do impacto dessa notícia. Basicamente três correntes se formaram, com opiniões distintas sobre todo o caso. A primeira eu chamo de corrente tropaelitista. A segunda, dos revolucionários de ocasião e, por fim, a dos manifestantes políticos.

Nesse ponto, devo admitir que de modo algum concordo com todos os comentários que parecem ter sido retirados do filme “tropa de elite”, em que os maconheiros de classe média são taxados de financiadores do tráfico, com ênfase tal que parecem ser os principais responsáveis pelo tráfico de drogas. Peço a esse pessoal que reflita um pouco mais sobre a presença do tráfico no Brasil. Questões muito mais diretamente ligadas ao problema são deixadas de fora desses comentários rasos, como a entrada absurda de entorpecentes “de gente fina” e armas nas fronteiras brasileiras que deveriam estar sendo fiscalizadas. Se a coisa vem parar aqui, é porque tem alguém lá em cima facilitando o acesso. E, estando os maconheiros/drogados de qualquer classe social moralmente corretos ou não, é simplesmente errado o uso de violência desnecessária para castigá-los. Frases como “tem mais é que apanhar mesmo” só refletem a falta de pensamento crítico dos tropaelitistas. O caráter da polícia não é corrigir ou castigar. Não se castiga mais assim. Esse é um hábito que era legítimo até o início do século XX, tempo demais na minha opinião e, de modo algum, cabe em uma sociedade do século XXI. Muito menos quando aplicado pela polícia.

Os revolucionários de ocasião é como enxergo um grupo razoavelmente expressivo de alunos que decidiu manifestar-se pelo simples motivo de se rebelar. Os meios viraram objetivo. Também está inserida a parte dos estudantes que protestaram pelos alunos que foram detidos, como se não devessem ser e, ainda, pessoas que simplesmente querem extravasar a raiva contra autoridades, aparentemente representada pela propriedade pública; São os marxistas da GAP, tão criticados pelos que polarizaram o discurso de maneira mais “conservadora”.

Por fim, o grupo dos manifestantes polítocos. Aqui a coisa fica mais interessante, mas falarei deles na próxima semana, dada a impossibilidade de fazer um único post, pelo tamanho exagerado que o texto tomaria, afastando nossos únicos cinco leitores.

Um comentário:

  1. Se empolgou hein Leandro ???Ta querendo compensar as várias semanas q tu não postou ou isso aí é algum trabalho q tu fez pra facul...rsrsrs...

    Sobre texto: essa notícia não chamou nem um pouco minha atenção, não me informei o suficiente para opinar, no desconhecimento, concordo apenas que todo mundo tem o direito de se indignar a principio...sou a favor de botarmos o congresso e o senado abaixo!

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