quinta-feira, 21 de julho de 2011

De um livro

- Vá até aquela parede e fique com as costas encostadas nela.
- Pra quê, pai?
- Você já vai ver, é uma brincadeira muito legal.
- É sim meu filho, pode ir.
- Tá bem mãe.
- Pá!

Seu pai era um cara legal, apesar de tudo, talvez fosse mesmo uma boa idéia procurá-lo nesse momento de aflição, morava agora em um lado afastado da cidade, não afastado como uma casa de veraneio, era mais parecido com aqueles lugares para onde vão os bandidos nos dias de instalação de uma UPP, não, ele não morava em uma cadeia nem em um cemitério, também não morava em Nova Iorque, é que os bandidos aos quais me refiro não são aqueles que sobem o morro no dia de instalação de UPP nem àqueles que mandam os outros subirem o morro.

Na verdade ele não sabia exatamente onde seu pai morava, nunca tinha ido lá e já fazia algum tempo que não falava com ele, o velho era excluído digital e se recusava a falar por telefone também, esse procedimento deve ser inspirado em algum filme sobre a máfia italiana, mas isso são apenas desculpas, nem que ele fosse o rei da conectividade seu filho o procuraria, não até aquele momento pelo menos.

Estava lá, recluso em seu lar, fazia tempo não encontrava motivo para sair de casa, e ele precisaria mesmo de um motivo muito bom para tal, diante das inúmeras razões que tinha para permanecer em sua rotina de apreciação das noticias mais violentas possíveis via mídia televisa ou impressa, aquilo lhe dava certo prazer, aparentemente o século XXI não era capaz ainda de ser pano de fundo de histórias como as suas, os jovens das noticias “atuais” acreditam mesmo que a juventude é a melhor coisa que terão na vida, e ele já tinha tentado passar a sua experiência para frente de várias maneiras, não obteve sucesso nessa missão. Outra atividade prazerosa de sua rotina era cuidar de seus cães, tinhas 3 filas-brasileiros, capazes de devorar um boi inteiro e cagar como toda uma manada, então a atividade limpar fezes de cachorros preenchia boa parte de seu tempo, o resto do passava bebendo, comendo e dando prazer a uma certa moça.

Só podia ser louca aquela menina, 23 anos e ao que parece sua vida consistia em ser balconista na zona sul de segunda a sábado das sete as dezessete, para ganhar mal ainda, a julgar pelas roupas e perfumes pobres que usava, alguns rapazes ganhavam quatro vezes o que ela ganhava para ir a faculdade de segunda a sexta, meio período, o tempo que os sobra passam apurando a forma física ou na praia ou na praia apurando a forma física, e o que eles ganhavam não tinha desconto e nem imposto, a Juliana dizia que tudo tem razão de ser. Bom, o resto do tempo passava com ele, 60 anos, humor negro e não gostava de sair de casa, mas a loucura dela até que lhe alimentava, naqueles tempos era o suficiente para lhe prender a atenção.

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