terça-feira, 19 de julho de 2011

Tristes coloridos

Uma pergunta para você caro leitor, é a cultura que influencia a música ou é a música que tem influência sobre a cultura? A questão é difícil, portanto não precisa se apressar para encontrar uma resposta. Tomemos alguns exemplos para efeito de estudo a fim de facilitar. Os Beatles usavam drogas por que a juventude usava ou a juventude usava por que os Beatles compunham sob efeito? Continua difícil, não? Busquemos então outro exemplo, agora a nível nacional. Foram as canções de protesto do Chico que insurgiram a multidão contra a ditadura ou foi a multidão que insurgiu as canções do Chico? Após alguns momentos de reflexão talvez você esteja pensando da mesma forma que eu, as duas coisas ocorrem. Bom, se não for o seu caso, irei ignorar a sua linha de pensamento nessa análise.

De qualquer forma, fica evidente a importância da música dentro da cultura. Certa vez, comentando sobre a Bossa Nova, Tom Zé fez uma colocação que ajuda a entender a dimensão da coisa. Dizia ele que o ritmo de João Gilberto era um marco dentro da história do Brasil. Pela primeira vez um país que exportava bananas passou a exportar arte, o grau mais alto da capacidade humana segundo ele. Ainda pode parecer pouca coisa para alguns que se ouça Vinícius e Tom no salão de entrada do aeroporto internacional de Nova York mas não é. Falando deles, tomemos os EUA como exemplo. Quem são os maiores exportadores de arte, logo de cultura, no mundo globalizado? Consequentemente, ou não, são eles a maior potência econômica do mundo. Como já foi dito globalização não existe, o que ocorre é um processo de americanização. Basta ligar a sua televisão para confirmar o que lhe digo camarada.

Agora com o amigo leitor mais engajado no assunto, mais consciente sobre a importância da música, partiremos para outra problematização, dessa vez a mais importante. Quando foi que a música se tornou isso que ouvimos hoje nas rádios? Tenho para mim que música é vida. Ouvi Bob Marley a aproximando à religião dentro da cultura rastafari. Na África os tambores são instrumentos sagrados, soam como o som do coração da mãe batendo para o feto ou o som do vento para o nascido. A música é forma de contato entre o homem e o seu Deus. Não há argumento maior que esse.

Música é vida, repito. Nela há espaço para tudo: tristeza, alegria, raiva, saudade, amor... Todos tem um motivo diferente para ouvir e cantar. A música sempre existiu como forma do homem se expressar, cantar ou tocar sobre aquilo que ele julgava capaz. Os Stones cantavam a alegria de ser jovem em uma época de mudanças e os Racionais sobre o que a televisão ainda não transmite. O problema é que de uns tempos pra cá a música - ou melhor, quem participa do processo de divulgação e criação - passou a ceder espaço aos que não tocavam sobre isso. A música sempre esteve mais voltada para a conquista, para a capacidade de conquistar algo, seja o amor de alguém ou alguma causa mais distante. O diferencial dessa geração colorida de hoje é que eles cantam sobre a impotência, a incapacidade.

Em algum momento da história humana fizemos a transição dos Beatles para o Simple Plan. Isso não se pode creditar unicamente as grandes gravadoras e a mídia em geral, como observamos nos primeiros parágrafos desse texto. E o mais triste é constatar que se trata de um tendência mundial, não só no âmbito da música mas nas pessoas. Nesses tempos melancólicos em que vivemos felizmente a música verdadeira ainda persiste, apesar de ser cada vez mais raros os casos aonde ela acontece.






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