quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Rei Voltou

Pensei bastante sobre o que escrever aqui após esse lapso de quase um mês. Tempo, certamente, não faltou. Tinha em mente algumas considerações sobre a grande mídia, seus preconceitos e ideologias inconfessáveis, ocultos sob a suposta imparcialidade da máscara de cera dos apresentadores de Jornais Nacionais. Mas na segunda-feira o Julio tangenciou a questão, que é assunto pesado e sério. Como esse blog não é um balcão de denúncias, mas quase um botequim virtual, cabia a mim aliviar o bate-papo depois do gole seguinte. Veio, então, a ideia de falar sobre um certo verso de samba que resume a condição humana, ou reescrever um texto de memórias do velho blog...
A intenção, enfim, era evitar o futebol e trazer um tema diferente. Até ontem à noite vinha conseguindo. Nenhuma das ideias que tive, nenhuma das frases que construí, tinha nada que ver com gramado, bola ou chuteiras. Mas, depois de mais de 10 anos, eis que Juninho volta à campo com a camisa do Vasco e, em dois minutos, faz um gol mágico, daqueles que derribam falsas verdades e fazem repensar toda a vida. Eu bem que tentei, mas abordar qualquer outro assunto logo após os acontecimentos de ontem seria evidente tolice.
A rigor, não é exatamente de futebol que trato aqui, tampouco nos textos anteriores. O que fez Juninho ontem, assim como fez o Vasco há um mês atrás, extrapola em muito o futebol, ou ao menos aquela ideia obtusa de futebol. Só os mais insensíveis entre os homens – entre eles, os intelectualóides detratores do esporte e os participantes de mesas-redondas – podem acreditar que o jogo é um enfrentamento de esquemas táticos ou que a torcida é uma cifra de venda de camisas.
Se assim for, não escrevo sobre futebol. E por uma única razão: minha absoluta ignorância acerca de estratégias de jogo, organizações táticas, esquemas de marcação, jogadas ensaiadas, mercado de boleiros, campanhas de marketing ou patrocinadores. Mas se insisto em abordar o tema é porque há muito mais além da superfície. O futebol, por ser de verdade, é o mais belo teatro e é capaz de refletir a nós mesmos através das mais perfeitas metáforas.
Juninho, ontem, retornando depois de uma década de degredo, foi o grande protagonista: dois minutos de jogo, uma falta da puta que pariu, um chute certeiro, o gol. O jogo poderia ter acabado ali. Em verdade, o jogo acabou ali. Que importa o que houve depois? Que importa que o Vasco tenha perdido?
Após o gol, vieram 88 minutos de cumprimento de exigências burocráticas. O resultado, os gols do Corinthians, cada um dos lances da partida, serão para sempre esquecidos pela sua desimportância frente a um campeonato de inúmeros jogos. O eterno da partida de ontem é o retorno de Juninho, o nosso reizinho.
Eu, um republicano teimoso, curvo-me à monarquia de Juninho. É ele o rei que, em troca de um salário mínimo, volta à terra para morrer em campo junto com seu povo. É o herói de Pernambuco, menos pelos seus feitos que por seu sotaque renitente e orgulho autóctone, que acabam por de fazer dele um Dom Sebastião de cordel, honrando as mais profundas raízes de nossas tradições.
Os doutos de hoje hão de sair do ostracismo para revolucionar a filosofia política inspirados pelo retorno de Juninho. Os arqueólogos e historiadores de amanhã, vendo nosso tempo de tão longe, contarão a lenda de um certo rei que desapareceu em Alcácer-Quibir, e ressurgiu no Pacaembu.

2 comentários:

  1. vc se esquece q esse "rei" entregou o melhor de seu fisico e tecnica para clubes de segunda categoria na europa e oriente medio? e q, depois de inumeras tentativas do vasco em repatria-lo, so voltou pra encerrar a carreira?

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  2. Um ano se passou e o rei não da amostras de encerrar a carreira, camarada cana. Contudo, entendo a frustração daqueles que podem apenas apontar Adriano e Ibson como ídolos em atividade...

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